A realeza do samba, que abriu a temporada do pré-carnaval há oito dias, não será mais a mesma a partir de hoje. Insatisfeita com pressões para mudar o figurino - bancado por ela mesma - e reduzir o brilho nas fantasias a fim de não ofuscar a rainha Bianca Salgueiro, a inspetora de Polícia Civil Isabella Magacho Picanço, primeira princesa da corte, está renunciando à função. A presença no ensaio técnico de ontem foi o último compromisso cumprido pela policial.
- Entrei no concurso para ficar feliz, para me divertir, e não é o que está acontecendo. Então, prefiro sair - declara Isabella.
Em declaração escrita, a policial civil afirma que Marco Antônio Ferreira, coordenador da corte pela Riotur, estaria exigindo que ela mudasse de estilista ou submetesse a ele previamente os figurinos, sob pena de não desfilar na Sapucaí se não o fizesse. A alegação do coordenador, segundo Isabella, seria a de que as princesas não poderiam "ofuscar" ou "afrontar" Bianca.
"Não acho justo empobrecer e desmerecer as princesas do carnaval para poder enaltecer a rainha", afirma Isabella, na declaração.
A intenção de deixar a corte já tinha sido manifestada no último dia 11, quando a primeira princesa teria procurado Marco Antônio. Na ocasião, Isabella teria sido convencida por ele a permanecer no grupo e redigido outra carta - não datada - ditada pelo coordenador. O documento, com a assinatura dela, teria ficado com ele.
- Permaneci porque achei que as coisas iam mudar, mas, infelizmente, isso não aconteceu - explica a policial, que pretende devolver faixa e coroa ainda esta semana (os R$ 15 mil do prêmio do concurso ainda não teriam sido debitados na conta da policial civil).
A saída de Isabella é a segunda baixa na corte de 2011. O quarteto eleito em novembro tinha Milton Júnior como Rei Momo, Bianca Salgueiro como Rainha do Carnaval, Jéssica Maia como primeira princesa e a policial como segunda. Em dezembro, Jéssica anunciou que deixaria o grupo para se dedicar mais à Alegria da Zona Sul, escola do Grupo A da qual é madrinha de bateria. Com a despedida, Isabella se tornou a primeira princesa e Talita Del Castilhos, quarta colocada no concurso, assumiu a vaga ocupada anteriormente pela policial.
Leia aqui o desabafo de Isabella:
“Eu, Isabella Magacho Picanço, venho por meio desta esclarecer fatos lamentáveis que vêm ocorrendo comigo junto à corte do carnaval do RJ.
No dia 11 de janeiro, estive na Riotur com uma declaração informando que eu estava renunciando ao posto de princesa do carnaval, já que no dia 09 de janeiro, domingo, o coordenador e responsável pela Corte do RJ, Marco Antônio Ferreira, antes do inicio do 1º ensaio técnico na Marquês de Sapucaí, fez uma reunião com a presença de toda a corte e disse, entre outras coisas, que se algum de nós do cortejo quisesse desistir não teria problema algum, era necessário apenas entregar um ofício endereçado a Riotur informando que estava renunciando ao cargo e devolvendo a coroa e a faixa.
Ao entregar esse ofício, o sr. Marco Antônio pediu para que nós conversássemos, dizendo que os fatos narrados acima o prejudicariam, e me solicitou fazer outro ofício com teor ditado por ele próprio, solicitando inclusive que eu deixasse esse ofício sem data, na intenção de me convencer a permanecer junto da corte. Ao atender o solicitado, me senti fragilizada em virtude de ,a qualquer momento em que eu não atender às suas exigências, ele dê entrada no ofício assinado por mim, sem data prevista.
Os fatos expostos nos dois ofícios entregues ao sr. Marco Antônio tiveram a intenção de não comprometer a corte real do RJ, mas, infelizmente, não são os motivos verdadeiros da minha renúncia da função de 1ª princesa do Carnaval do RJ.
Resolvo, com muito pesar e tristeza, definitivamente, renunciar ao posto de 1ª princesa do carnaval do RJ, porque estou sendo pressionada a cumprir determinações do sr. Marco Antônio Ferreira, responsável pelo Cortejo Real, que não constam no regulamento do concurso.
Tudo começou com ele me pressionando para que eu fizesse minhas roupas dos desfiles dos ensaios técnicos com um estilista da sua preferência. Não concordei e resolvi fazer minhas roupas no atelier da Sônia Izidoro.
O sr. Marco Antônio, ao me convencer a permanecer no cortejo, me prometeu que não interferiria nas minhas roupas e nem fantasias. O que na verdade não aconteceu. O sr. Marco Antônio, ao contrário, pré-determinou um estilista de sua preferência para fazer os figurinos e confeccionar as fantasias do cortejo real.
Em um dos momentos em que eu me opus a cumprir com essas exigências, dizendo que queria fazer a fantasia com meu estilista, Guilherme Alvis, o sr. Marco Antônio, de forma descabida, disse que as fantasias teriam de ser confeccionadas nos mesmos padrões dos figurinos estipulados por ele, e, caso não fossem, tentaria impedir o meu desfile na Sapucaí. Isso, segundo ele, porque eu iria ofuscar e afrontar a rainha, e esta sempre tem que estar mais luxuosa do que as princesas.
Gostaria de esclarecer que tanto o atelier da Sra Sônia Izidoro, como também o estilista Guilherme Alvis vêm me apoiando, ajudando e confeccionando as minhas roupas e fantasias desde da época do concurso para Rainha do Carnaval 2011.
Fico impressionada que o sr. Marco Antônio faça esses tipos de exigências, já que consta no art. 18 do regulamento do concurso que os CUSTOS DAS FANTASIAS SÃO DE RESPONSABILIDADES DAS PRÓPRIAS CANDIDATAS. Gostaria de acrescentar ainda que, inclusive, as roupas usadas nos ensaios técnicos, blocos, e nas escolas de samba, são arcados pelas próprias candidatas.
Mediante os fatos narrados não me vejo na obrigação de aceitar essas condições impostas pelo sr. Marco Antônio, porque entendo que a rainha tem que ter o seu ESPLENDOR, mas não ACHO JUSTO EMPOBRECER E DESMERECER AS PRINCESAS DO CARNAVAL PARA PODER ENALTECER A RAINHA.
Quero aproveitar para agradecer a todos que me apoiaram e me acompanharam até este momento. Meus sinceros agradecimentos, pois este título conquistado no concurso dedico a todos vocês, mas faço questão de dizer que não me afasto do carnaval de 2011, porque isso, sim, é minha grande paixão.”
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