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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Família de Nelson Cavaquinho vai desfilar na Mangueira

"A Mangueira me chama, eu vou/Sempre fui o seu defensor/Sou um filho fiel/À Mangueira eu tenho amor..." Os versos que provam a fidelidade de Nelson Cavaquinho à Estação Primeira — e inspiraram o título do enredo "O filho fiel, sempre Mangueira", sobre o centenário do artista — poderiam ter sido escritos em co-autoria com seus herdeiros. Convocada para o desfile da Verde e Rosa, a família do compositor, emocionada com a lembrança, estará na Avenida para participar da homenagem. Mesmo a viúva, Dorvalina Maria de Jesus, hoje evangélica, não ficará de fora da festa.
— Eu sou cristã, mas, mesmo no tempo em que gostava de carnaval, meu negócio era assistir. Hoje, sou da Assembleia de Deus e participo de uma mesa de oração. Vou orar para que o Nelson traga sorte à escola — afirma a viúva, de 69 anos, que vai assistir ao desfile na Sapucaí com a neta Taísa, de 11.
Filha de Dorvalina, Márcia Regina, de 48 anos, vai desfilar no abre-alas, ao lado de Nelson Luiz Silva, de 54 — caçula e único filho vivo do compositor. Enteada do homenageado, que ajudou a criá-la desde os 6 anos, ela é responsável pela preservação de parte da obra dele.
— Ele não sabia usar o gravador e me acordava de madrugada, bêbado, para gravar as músicas que compunha. Por isso, sei todas as letras — relembra, rindo das brigas que tinha com o artista pelo sono interrompido.
Antes dessa fase, algumas letras teriam se perdido.
— Ele fazia música até no chuveiro. Saía, anotava a letra no papel de pão e dava para alguém gravar. Se perdesse e o procurasse de volta, dizia: "Essa já foi..." — conta Nelson Luiz, que desfilará com a filha Simone,de 35 anos, e os netos Felipe, de 16, e Gabriel, de 13.
Inspirado pelo enredo, Nelson Luiz, funcionário de uma empresa aérea, tomou coragem para mostrar o lado compositor:
— Já fiz uns três sambas, mas este é o primeiro que vou lançar. Chama-se "Saudades" e fala de "Folhas Secas" (sucesso do pai). Quero entregá-lo para a Alcione.

Além da forte religiosidade, pelo menos uma passagem de Nelson Cavaquinho é recorrente entre os amigos de boemia: a do cavalo que, cansado de ficar ao sol no pé do Morro da Mangueira, foi sozinho para o quartel. Na época, o então soldado da Polícia Militar fazia rondas pela região, mas perdeu-se de encanto pelo samba que tomava conta de um bar no Buraco Quente.
Para quem conviveu mais intimamente com o compositor também sobram histórias que desmistificam a imagem quase sisuda de Nelson em suas fotos.
— Ele insistia para me levar ao bar para mostrar aos amigos. Um dia, minha mãe liberou, mas, desconfiada, foi ver o que acontecia. Eu, com pouco mais de 1 ano, estava com a roupa batizada de refrigerante e passando de colo em colo... Ela me levou para casa e me limpou com álcool. Meu pai dizia: "Minha filha, não faça isso!" — revela Nelson Luiz.

A mãe do filho caçula do compositor lembra detalhes do dia em que Nelson Luiz nasceu.
— Comecei a sentir dor às 15h. O Nelson foi fazer um show e voltou às 5h. Agarrei no pescoço dele e o menino nasceu. Só estava esperando o pai! — diz Onélia Silva de Melo, de 79 anos, que se desencantou com um Nelson mulherengo, que reconquistava os amores com bilhetes românticos.
— Um dia cheguei em casa e encontrei uma mulher com o meu avental e o meu chinelo...
Dorvalina, que o acompanhou nos últimos 18 anos de vida, inspirou duas músicas.
— "Mulher sem alma" ele fez contrariado por eu ter ido visitar minha mãe, em Caxias. "Minha festa", quando estava tudo bem — conta ela, que visitou o barracão sexta-feira, aniversário de 25 anos de morte do compositor.
"Minha festa" é a apoteose do enredo da Mangueira.

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