Infelizmente não é a primeira vez que ouço a notícia de que alguém foi agredido dentro de uma escola de samba. Presidente dando tapa em carnavalesco, diretor batendo em mestre-sala, ritmista apanhando do mestre. Fatos como esses são relatados com frequência nas quadras e envergonham, repito, envergonham a todos nós que gostamos do carnaval. O episódio de Mestre Marcone na Imperatriz deve ser esclarecido pelas autoridades policiais e levado às últimas consequências.
Não posso opinar sobre o que aconteceu dentro daquela sala, isso ainda deve vir à tona (ou não!). Mas a atitude de Marcone depois do que aconteceu foi exemplar. Foi à delegacia, prestou queixa. Fez exame de corpo delito no IML. Publicou uma carta aberta relatando seu ponto de vista. Fez o que qualquer pessoa íntegra faria.
Horas depois, chegou a informação de que a Imperatriz havia demitido Mestre Marcone e que já procurava substituto. Ora, Marcone já estava fora da Imperatriz há muito tempo. Quando foi à DP e escreveu as fortes palavras em sua carta (que publicamos abaixo, aqui no blog), o diretor de bateria já mostrava sua decisão de sair da escola. Foi Marcone quem demitiu a Imperatriz.
Se outros profissionais tivessem a coragem de Mestre Marcone, episódios como estes seriam menos comuns. É hora de mostrar que as relações profissionais nas escolas de samba, embora envolvam paixão, não podem ser diferentes das que acontecem em qualquer empresa. Ou alguém já imaginou levar um tapa do seu chefe e tudo ficar por isso mesmo? Aliás, a enorme paixão que transborda do carnaval deve ser usada como combustível para fazer a escola pulsar; ela nunca pode servir de desculpa para falta de respeito, agressões ou humilhações.
O carnaval tem evoluído rumo ao profissionalismo em muitos aspectos. Na hora de arrecadar milhões em patrocínios mundo afora, as escolas de samba se dizem profissionalíssimas, exemplos de modernidade. É hora de levar esse conceito também para as relações pessoais.
Não cabe aqui julgar se Mestre Marcone tem razão ou não no ocorrido - não temos elementos pra isso, e só quem estava naquela sala poderá falar com conhecimento de causa. O que me preocupa, nessa história toda, é o futuro. Mestre Marcone foi uma das grandes revelações do carnaval nos últimos tempos. Fez uma mudança radical na bateria da Imperatriz, ganhou prêmios, levou enxurradas de notas 10 dos jurados. Marcone pode ficar desempregado, pode ir pra outra escola ou pode até fazer as pazes com a diretoria da escola de Ramos. Mas que esse episódio não atrapalhe sua brilhante carreira. O carnaval não pode ficar privado de um profissional que não aceitou se submeter a uma prática ainda tão comum, mas que nos leva de volta a um passado de triste memória.
fonte: jornal extra
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