O passado da Portela é repleto de vitórias, já diria o lindo samba “Vitória retumbante”, de Monarco. Afinal, são 21 títulos em seus quase 90 anos de história, que fazem dela a maior campeã destes 80 anos desfiles. Mas a trajetória da Portela também é repleta de brigas e dissidências. A primeira delas, que deixou uma ferida aberta, foi a saída de Paulo da Portela, em 1941. O fundador e nome mais importante da história da azul-e-branco teve um desentendimento com Manuel Bambambam, o valentão que era o mestre-sala na época, mas que também fazia parte da diretoria.
Paulo da Portela chegou para o desfile direto de São Paulo, onde fazia shows com Cartola e Heitor dos Prazeres. Vestidos de preto, roupa usada nos shows, eles foram impedidos de desfilar por Bam bam bam, que alegava que o próprio Paulo só aceitava componentes trajando azul e branco na escola. Por trás disso, estava uma rixa antiga entre Manuel e Heitor. A confusão estava armada, Manuel resolveu abrir uma exceção para o próprio Paulo, mas não admitiu que Cartola e Heitor fizessem parte do cortejo. Paulo não aceitou a desfeita com os amigos, e antes do décimo desfile de sua história, a Portela perdia o homem cujo nome se confunde com o seu. Paulo da Portela nunca mais voltaria à escola. No fim de sua vida, compôs "O meu nome já caiu no esquecimento" ("Chora, Portela, minha Portela querida / Eu te fundei, serás minha toda a vida"). Abaixo, uma cena do filme "Natal da Portela" tenta relembrar o episódio.
Esta foi a primeira, mas não a única dissidência na história portelense. Em 1974, o presidente da Portela, Carlinhos Macaranã, escolheu Jair Amorim e Evaldo Gouveia como autores do samba-enredo “O mundo melhor de Pixinguinha”. Vários compositores e figuras importantes da Portela se revoltaram e deixaram a escola, como Candeia, Zé Ketti e Paulinho da Viola. Jair e Evaldo eram autores de sucesso da música popular brasileira, mas não tinham qualquer ligação com a Portela, Na época, compositores de fora só eram aceitos nas disputas de samba depois de um ano na ala de compositores. Mas Maracanã bateu pé e a Portela rachou.
No fim de 1974, Candeia anuncia a fundação do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Samba Quilombo. O sonho dele era que as pessoas da escola fizessem tudo, da costura ao samba, das alegorias à dança, voltando aos tempos em que se desfilava com cordas, resgatando algumas tradições. A Quilombo atraiu sambistas de várias escolas, com a promessa de resgate das raízes do samba. Entre eles estavam Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Guilherme de Brito, Monarco, Nei Lopes, Wilson Moreira, Dona Ivone Lara, Clara Nunes, Beth Carvalho, Élton Medeiros, Nelson Sargento, Mauro Duarte e Clementina de Jesus - nenhum deles precisava deixar sua escola de coração. A escola foi fundada em 8 de dezembro de 1974, e durante o ano de 1975 se preparou para iniciar suas atividades - ela não queria disputar com as outras escolas. Em 1976, saiu pelas ruas de Rocha Miranda. Nos anos seguintes, desfilou na Avenida Rio Branco e na Marquês de Sapucaí (em horários diferentes dos desfiles oficiais). Em novembro de 1978, Candeia morreria em consequência de uma crise renal-hepática, decretando o fim precoce da Quilombo.
Em 1984, houve uma nova briga na Portela. Carlinhos Maracanã acabou com sete alas da Portela, e boa parte dos componentes resolveu fundar outra escola, com o nome de Sociedade Recreativa e Cultural Portela Tradição. Carlinhos Maracanã entrou na Justiça, e a nova escola não pôde usar o nome Portela, ficando apenas como Tradição. Nésio Nascimento, filho de Natal, era o presidente; e o símbolo da escola era um primo da águia, o condor. Nomes como Tia Vicentina e Wilma Nascimento também estavam na Tradição. Em seus primeiros anos, a escola ficou conhecida pelos belos sambas, feitos sempre pela dupla João Nogueira e Paulo César Pinheiro.
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