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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Confira a sinopse da Alegria da Zona Sul para 2013



“QUEM NÃO CHORA, NÃO MAMA…”
 Confetes coloridos caem como gotas de chuva do céu. As serpentinas, frágeis tiras de papel
se enrolam entre nós dois e dessa forma ficamos cada vez mais próximos. Eu sou o seu
pierrot e você a minha colombina mágica e misteriosa no seu vestido de bolas pretas. Assim,
nasceu a ideia do nome do cordão de carnaval mais antigo do Rio de Janeiro e tudo isso
começa lá na virada para o ano de 1918, em pleno réveillon carioca!
 Jovens esportistas e alguns nem tanto, na sua maior parte associados do Clube dos 
Democráticos todos com o mesmo gosto pela cerveja gelada, mulher bonita e simples 
diversão no carnaval, capitaneados pelo senhor Álvaro de Oliveira mais conhecido como 
K. Veirinha ou Trinca Espinha e um senhor de nome Chico Brício, se juntam pelos bares da 
Galeria Cruzeiro e contra a nova ordem do chefe de polícia, (o mesmo do samba “Pelo 
telefone” do saudoso Donga) que queria proibir com cassação e até mesmo prisão, os 
grupos e cordões que perturbassem a ordem pública, criam o cordão, inicialmente com um 
baile “Maxixético e rebolativo!”- assim dizia no convite, na sede alugada do Clube dos Políticos, 
na rua do Passeio. Mais tarde o cordão saia pelas ruas da cidade, em calhambeques antigos 
e o povo fantasiado, cantado sem parar.
Primeiro as grandes sociedades e corsos frequentada pelas camadas mais ilustres, 
depois a pequena burguesia que se contentava com os ranchos e o seu lirismo romântico. 
 E para os pobres e negros o que sobrava? A farra, os blocos e cordões que arrastavam o povo 
pelas ruas estreitas dessa cidade!
  Nos cafés o charme das madames e o galanteio dos elegantes cidadãos. Nos salões Sinhô 
era sucesso, assim como a polca e o samba chorado. Em terreiros, já se ouvia os bons partidos 
de samba de batuque e o anúncio de que vinha coisa boa por aí. Daí para ficar tudo mais gostoso,
tinha o glamour dos anos 20 que arrebatava os poetas e cantadores. Começava a se sentir que 
a cadência do samba também combinava com o jeitinho francês, que invadia esse Rio de Janeiro de 
meu Deus! Juntando tudo isso e ainda mais a frenética cultura que fazia a cidade ferver e borbulhar… 
pronto, é igual a fórmula do sucesso: um bloco de rua!
Não qualquer bloco! Era o bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta. E os jovens queriam apenas
fundar um cordão chamado “Só se bebe água”. Mas, inspirados no vestido da tal colombina que
deixou o pierrot a ver literalmente navios, mudaram de nome. E ganharam a fama e o amor de
todos os foliões que se tornaram “bolapretenses”.Assim que inaugurado, em princípio, só saía 
no carnaval. Depois, começou durante todos os anos muito badalo, farra e alegria nas dependências 
muito bem frequentadas do clube. Feijoadas concorridas, festas de batuque, bailes dançantes, 
shows musicais com cantores da época, concursos de todos os tipos. O Bola Preta era o 
point predileto da dita boa e formosa sociedade carioca, ali se vivia o melhor samba, a pura 
diversão e uma tal felicidade rasgada, sem fronteiras nem eiras, mas sempre mantendo os bons 
costumes pedidos do salão.
 Os anos vão sendo contados através dos carnavais brincados. E quando chegava a festa de 
Momo, ahh, ai sim, o bloco vinha pra rua, com tudo que tinha direito! Havaianas com 
saruel coloridos e flores de lisolene se encontravam com piratas de capa e espada, mas 
sem olho de vidro e perna de pau. Tirolesas com suas perucas louras não necessariamente andavam
com alemães, víamos muitas de braços e laços com caveirinhas enfezados. Diabinhos travavam
guerras de lança perfume com românticos dominós. Os bate bolas multicoloridos metiam 
medo nas crianças fantasiadas de anjinhos e palhaços de fita. Já os índios, batiam martelos
de plástico na cabeça das melindrosas que só queriam cantar e se divertir ao som da banda 
carnavalesca que tocava sem parar.
 Os instrumentos de sopro, acorde e percussão se juntavam e orquestravam as mais famosas 
marchinhas, eram os grandes sucesso das rádios de todo o país, o Bola influenciou até as 
marchas que ficariam ou não famosas na MBP da época. Senhoras de leque na mão se 
abanavam, homens mais recatados não deixavam perder o tom. Assim ficamos sabendo 
que a jardineira estava triste com a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois 
morreu. Oh abre alas que eu quero passar. Ai mamãe, dá logo à chupeta pro neném não 
chorar! Allah-lá-ô, Allah-lá-ô, ôô, mas que calor ô ô. Era um rio de 40 graus, ou mais. E ei você ai, 
me dá um dinheiro aí?
 Ô nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia? O teu cabelo não nega mesmo, mas me 
diz, qual é o pente que te penteia, hein? Taí eu fiz tudo pra você gostar de mim…Nessa cidade 
maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa que até hoje é o coração do meu Brasil.
Assim o bloco ia pelas ruas do centro da cidade arrastando multidões. Homens se vestem 
de mulher, mulher vira valentão, a imaginação é liberada e a criatividade é premiada para quem 
ganhar o concurso do mais original folião. Lindas decorações compunham o cenário 
das ruas do centro e imediações da Cinelândia, local de partida dos desfiles do bloco, para o 
deslumbre visual.Era dar um beijo apaixonado na sua amada e olhar para o céu e admirar os 
estandartes que enfeitavam as ruas. Era dar um gole na alegria, na ilusão, na bebida e admirar 
o colorido da decoração. Desciam do céu lindos adornos que emolduravam a folia, tal qual caricatura 
ou charge . Ou um quadro de algum pintor famoso da época.
 E se fossem estandartes afro? E se “Yemanjá e seu espelho – O bairro do pelourinho na Bahia” 
tivessem vencido o concurso? Fernando Pamplona e Nilson Pena tiveram sua ousadia reprimida 
ao participarem do concurso da prefeitura. Caretice. Tolice. Vai entender a política ou pensamento 
de quem reprime? Afirmaram que o folclore nacional era indigno de ser decoração. O que é o Bola, 
afinal, senão folclore diverso da alegria etílico-momesca nacional? Mas depois isso, tudo foi 
revisto e eles acabaram ganhando o concurso e mais tarde Pamplona traz toda a sua inspiração 
para o desfile do Acadêmicos do Salgueiro.
 Mas nem com toda polêmica o Bola Preta deixou de passar! Muito confete caiu ao longo desses 
anos, muita água de cheiro se jogou e o arlequim continua chorando pelo amor da colombina no
meio da multidão. Hoje, o bloco arrasta mais de dois milhões de foliões pelas ruas dessa cidade, 
nas manhãs de sábado de carnaval.
 Turistas que tentam registrar com suas máquinas ou celulares, essa transe que acontece com os 
foliões do bloco Cordão da Bola Preta. Crianças brincam sem parar, os mais jovens vão para 
se ajeitar com as “gatetes” do momento, artistas e políticos não podem deixar de frequentar e os 
velhos não ficam sentados, se animam, se levantam e vão sambar!
É uma catarse, uma overdose de alegria, que junta sambistas com animação e suor. E o querido 
Bola que surgiu de um protesto contra uma proibição, virou patrimônio histórico cultural da cidade 
do Rio de Janeiro. Dessa forma, no seu desfile de folia, trabalhadores se libertam das regras do 
seu dia a dia e investem naquela paquera, acompanhados pela estúpida cerveja gelada. Os 
doidos camelôs tentam ganhar os últimos trocados para os momentos da festa profana. É uma 
procissão, diria uma comunhão de alegria, com hora para começar e terminar ao som da Banda 
Show e o lema de fazer e incentivar o carnaval de rua e não deixar a música popular brasileira morrer. 
 É mais que um bloco, é um manifesto sócio cultural que une, congrega, aclama e propaga a paz o 
amor e a folia! Assim o Bola se torna o maior representante desse jeitão irreverente de ser carioca!
 Rainhas famosas são coroadas, princesas garbosas reinam nos quatro dias de festejo e o Grêmio 
Recreativo Escola de Samba Alegria da Zona Sul nesses 20 anos de sua existência e resistência 
ao verdadeiro carnaval carioca, tem a honra de contar e homenagear em tema de enredo, 
os 95 anos de história do bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta, a mais antiga instituição 
do carnaval carioca.
 Hoje, com licença da nossa respeitada velha guarda, as nossas baianas rodopiaram com mais garra, 
mulatas e passistas formam o famoso triangulo com pandeiros, tão esquecido nos desfiles de escola 
de samba e todos se juntam para homenagear o querido Bola. E nós anônimos, porém 
animadíssimos foliões cariocas, vamos cantar em alto e bom som que:
 “Quem não chora não mama, segura meu bem a chupeta. Lugar quente é na cama, ou então 
no Bola Preta. Vem pro Bola meu bem com alegria infernal. Todos são de coração, todos 
são de coração foliões do carnaval! Sensacional!”- (Nelson Barbosa/Vicente Paiva – 1962)
 Para todos que acreditam na resistência do carnaval carioca, do tema de enredo folião acima
de qualquer dinheiro e para aquele que quebrou as regras dos desfiles das escolas de
samba na cidade do Rio de Janeiro, Fernando Pamplona.
Texto e pesquisa : Eduardo Gonçalves
Agradecimentos e colaboração : Eduardo Nunes, Fábio Fabato e Vinicius Ferreira Natal.
fonte: rotadosamba.com

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